quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um intervalo de palavras

Venho por este meio informar a minha intenção de fazer uma pausa nas postagens deste blog. A vida não tem pausas, não se lhe pode pedir um tempo, deixá-la em suspenso, em espera. Mas a vós e, sobretudo, a mim, posso pedir este intervalo de palavras, de pensamentos, de pseudo-textos literários. Não é por falta de vontade e de palavras que tomo esta decisão, é talvez por falta de força e coragem, é talvez devido a este desgaste que sinto, esta erosão que se tem apoderado de mim. Preciso de recuperar um certo brilho, uma luz maviosa, aquela mesma que me acompanhou durante muito tempo sempre que as minhas palavras cumpriam o caminho que as separava do meu espírio até ao papel.

Terminei o segundo livro, "O Silêncio das Palavras", mas não me terminei a mim, nunca me vou terminar porque nem sei se já comecei. Peço tempo ao tempo para que o meu corpo se distenda sobre o vazio do não ter que pensar. Como tudo na vida, há momentos eufóricos e disfóricos e durante estes 3 anos e 3 meses, partilhei com textos muitos desses meus momentos. Agora, nesta estrada que percorro, encontro um STOP e decido encostar um pouco. Às vezes a melhor forma de vermos o que nos rodeia é fechando os olhos e sentirmos aquilo que de olhos abertos não nos é mostrado. Estou feliz: sei que a escrita é realmente o "Projecto da Minha Vida" mas no que a este blog diz respeito, a pausa que desejo encetar será certamente profícua para que no futuro os meus textos voltem a ter o fulgor de outrora.

Fábio Nobre

segunda-feira, 28 de março de 2011

O coração é o mapa

Há um caminho...e esse caminho é em frente. Por muito rápido que corras ou devagar que andes, nunca conseguirás dar dois passos de uma vez, será sempre passo por passo que construirás o teu trilho.


Que metáfora patética para a vida: caminhar. Para além de ser o cliché mais usado e gasto, é também o que menos sentido faz. Quando caminhamos, temos um destino ou um propósito, não nos ficamos pelo simples acto de caminhar: ou queremos chegar a algum lado ou exercitar o corpo ou simplesmente desfrutar de uma qualquer paisagem. Viver é existir sem direcção, é encontrar rumos diferentes a cada novo dia, é corrigir rotas, melhorar coordenadas, reparar erros para os voltar a cometer. Ao caminhar também nos podemos perder, é certo, mas há mapas e podemo-los seguir. Qual é o mapa para a vida, da vida? Só vejo um, o coração. No fim de contas, é ele que define que tipo de pessoa somos e o que queremos para nós, qual a pureza das nossas motivações e veracidade das nossas palavras. Não há GPS para a vida, cada curva pode ser um engano, cada passo uma queda. Mas se vivermos de acordo com aquilo que somos e formos genuínos connosco próprios, então não há engano ou erro que não valha a pena, pois cada um será mais uma etapa na nossa eterna descoberta sobre nós mesmos.

Fábio Nobre

quinta-feira, 17 de março de 2011

Meia idade

" (...) Aquela casa, com as divisões a prolongarem-se a cada passo do pai da Ana Teresa. A cozinha que nunca mais chegava, a porta da saída ou entrada que teimava em fugir, o quintal matreiro que o fintava. A solidão expandia a casa ou encolhia o pai da Ana Teresa. Era uma solidão a part-time porque ele sabia que a filha estava perto mas era uma solidão sufocante porque nascia de dentro dele. Ele tinha já começado a perceber que a velhice abranda o tempo, torna cada hora mais demorada, mas apressa o tempo, torna cada dia mais curto. E a sua era uma velhice sobretudo mental, porque o seu corpo ainda não acusava severamente os sinais do envelhecimento, estava na meia-idade: como se pode estar na meia-idade se nunca sabemos com que idade morremos? (...)"


Fábio Nobre in O Silêncio das Palavras



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Hoje de Amanhã

Hoje, o meu blog faz três anos. E para assinalar esta data simbólica pedi um pequeno texto ao César Lopes. Ele, mais que um amigo, sempre uma luz guiadora, uma espécie de farol nas noites escuras. Desde o início desde blogue que ele teve um papel importante por ter expressado sempre a sua opinião em relação à minha escrita e me ter feito evoluir, me ter ajudado a limar algumas arestas. E agora, passados três anos, pedi-lhe este pequeno texto para assinalar este momento e ele, sem supresas, correspondeu. Apesar da vida muito ocupada, apesar das preocupações, apesar do cansaço, ele correspondeu porque ele sabe, como eu sei, que para a amizade há sempre tempo, há sempre espaço.


Admito que tinha pedido um pequeno texto a mais duas pessoas: três anos, três textos. Por alguma razão, essas pessoas não me enviaram os mesmos. Não é grave, têm os seus motivos. Garanto apenas que a qualidade desta publicação não fica beliscada por isso, pois o pequeno texto do César absorve, engloba e, quiçá, transcende tudo o que eu tinha em mente quando pedi estes textos. É, pois, uma honra para mim marcar este dia com um texto seu, para que ele possa deixar literalmente o seu cunho no meu blogue como já o deixou por tantas vezes de forma simbólica.



O Hoje de Amanhã
Olhando para trás, o Passado parece-nos tão próximo que vivemos sufocados
com a brusquidão e impetuosidade do Presente. O amanhã não existe, apenas
o ontem e o hoje. O antes, o agora e recordações. Não temos mais nada, a não
ser a certeza de que somos, até deixarmos de ser. Nada mais.
Temos de aceitar que tudo o que vimos, cheirámos, tocámos, amámos, sentimos,
não deixará marca, só pó, cinzas e memórias... Resta-nos aproveitar cada
brisa da nossa existência e procurar encontrar algum sentido no Universo.
Viver cada momento como se fosse o último, pois o que fizermos nestes dois dias,
ecoará na Eternidade ... Olhando para trás, sei que ser teu amigo valeu a pena.
Esperemos pelo hoje de amanhã ...


César Francisco Araújo Lopes


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Perdido algures...


Agarro-me a ti, à socapa, com medo que me fujas, encontro-te dentro dos meus olhos e sei que me pertences. Mas nada é eterno e há sempre algo de novo para descobrir, quero-te, amo-te, mas não me sei exprimir. Espero-te dentro do meu peito, numa masmorra chamada coração, sento-me no tempo e aguardo o teu perdão. Estou longe, não de ti, mas de mim, estendeste-me o fio de seda e conduziste-me, não sei como me perdi. Amanhã nascerá o sol nos olhos de quem acredita e tudo parecerá mais simples e mavioso, sei disso e sinto-me aliviado, mesmo que em mim não haja sol que nasça, que não o faça desgastado.



Se me conheces, labirinto do meu ser, não me chames pelo nome, que chamar pelo nome é parecer que sou distância no teu espírito. Chama-me por gestos e sorrisos, que as tuas mãos na minha nuca são paraísos, os teus lábios nos meus são rosas, os teus seios pedras preciosas.


Para além de tudo isto, o amor é morte anunciada, estou morto de tanto te amar, não me resta mais nada. Amanhã é um dia novo, para quem se atrever a vivê-lo, não há sonho, por mais puro que seja, que não se possa tornar pesadelo.


Fábio Nobre 18/01/2011