domingo, 20 de dezembro de 2009

Ser criança...


Ser criança é acreditar que a lua é feita de queijo. Que o sol se deita no mar e as nuvens são feitas de algodão doce. Ser criança é chorar por ter o joelho ensanguentado como se isso fosse o fim do mundo. É acordar todos os dias com mil e uma coisas novas para descobrir.


Eu já fui criança. Já joguei ao berlinde, já joguei à bola com uma garrafa de plástico, já gostei da menina mais bonita da turma. Acordava cedinho de manhã para ver os desenhos animados, brincava na rua com os meus amigos, chegava atrasado para jantar porque não ouvia a minha mãe chamar. Já possuí no olhar o brilho da irresponsabilidade, da ingenuidade. Acreditei que os bebés nasciam de beijinhos na boca, não pensava nos problemas do mundo, a minha vida começava e acabava na minha cidade. Tinha a certeza que o pai natal descia da chaminé e tinha pena por sujar as calças de cinza quando aterrasse na lareira. Abraçava a minha mãe e não tinha medo de lhe dizer que a amava, admirava o meu pai e queria ser Homem como ele um dia.


Eu já fui criança. A minha vida já foi um recreio. Já acreditei nas coisas perfeitas. Já quis ser astronauta. Imaginava que iria casar com uma menina linda, de longos cabelos escuros e teríamos muitos filhos pequeninos. Já fui criança. Já fui feliz.


Já não sou mais criança.


Fábio Nobre 13/11/09

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Não és


É no teu corpo que eu sacio o meu desejo. É em ti que eu me banqueteio vezes sem conta. Matas-me a fome. Gosto de estar dentro de ti, és o poço que extingue a minha sede.


Nunca serás a mulher que amo. Nunca te verei jardim na minha vida. És apenas os meus cinco segundos de prazer. E não percebes, teimas em não entender que só te quero por cinco segundos. Depois disso preciso de estar longe…bem longe, chegas a enojar-me, ficas suja. Humilhas-te uma e outra vez. Não se compra amor com sexo. O teu corpo não é moeda de troca. É apenas o meu parque de diversões…porque sei que a mulher que quero não me ama.




Fábio Nobre

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eu amo a minha cidade


Quando o sol se deita e sobre ela estende os seus raios como se a reclamasse toda para si, eu amo a minha cidade. No crepúsculo do dia, a minha cidade é o paraíso porque é bela e faz amor com o mar. Irrompe pela terra a gritar a plenos pulmões que existe. Tem um aroma a África a minha cidade: cheira a desertos austeros, a casas de barro, a chás exóticos, a túnicas que cobrem a face, a pele queimada…


Eu amo a minha cidade porque cresci nela e ela cresceu comigo. As suas praias são, porventura, lágrimas minhas: salgadas. À noite a minha cidade vai com os pescadores, acompanha-os nas traineiras em busca do peixe, conforta-os e trá-los de volta às suas famílias com os seus faróis. A minha cidade já teve golfinhos nas suas águas, que agora choram a sua ausência. A minha cidade é bela porque a beleza está nos olhos de quem a vê, de quem não a questiona…apenas a admira.


A minha cidade é o ponto de partida para o resto do mundo. O oceano, grande e rebelde, vem na madrugada dormir no regaço da minha cidade, aconchegado e tranquilo: sereno. E assim embala muitos corações em momentos de paixão nas suas areias…




Fábio Nobre 25\09\09

terça-feira, 7 de julho de 2009

É tão fácil...


As coisas mais simples são sempre as mais complicadas. É tão simples amar alguém. É tão complicado admitir isso. É tão simples magoar alguém. É tão complicado quando saímos magoados. As coisas mais simples são sempre as mais complicadas porque não há meio-termo quando se é humano.


FN 16\03\2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Havia um mundo...


Havia um mundo onde as pessoas não tinham boca. As palavras não existiam. Beijos e sorrisos não existiam. As pessoas alimentavam-se de silêncio. De silêncio apenas. Comunicavam sobretudo através do olhar. Nesse mundo ninguém podia mentir porque o olhar não mente. Nesse mundo o amor era verdadeiro porque o olhar não mente. Nesse mundo, as pessoas eram felizes porque não sabiam. Não sabiam o poder das palavras. Nesse mundo as pessoas eram sinceras.


AMO-TE nesse mundo eram duas mãos entrelaçadas e um olhar cúmplice. AMO-TE nesse mundo era o silêncio de um coração a bater descompassadamente. Era tudo tão simples nesse mundo onde as pessoas não tinham boca. Tudo tão natural e completo. Existir uma palavra nesse mundo seria um incêndio que jamais se apagaria…


E eis, que um dia…nasce um menino com boca.




Fábio Nobre 06\03\2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Talvez


Talvez, se tudo tivesse sido diferente, estivéssemos hoje juntos. Se o mundo girasse ao contrário ou os oceanos desaguassem nos rios, talvez dormíssemos hoje na mesma cama. Se não tivesse ficado enleado nos fios do destino, talvez lutasse por ti…



Fábio Nobre

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Quando tudo cai...


Ele olhou-a nos olhos e soube. Ela não aguentou e baixou a cabeça. Começou a chorar como se isso a desculpasse e, entre soluços e gaguejos, balbuciava palavras de arrependimento e apelava vergonhosamente à sua compreensão.


- Quantas vezes foram? – a pergunta que era simultaneamente o seu punhal e a sua ferida, numa certeza desconcertante de ter já o coração quebrado.


-Foi só essa vez e foi porque, porque… - as frases já não lhe saiam completas e ela sabia que o havia perdido para sempre.


- Sai! Sai já do quarto que um dia foi nosso mas que tu profanaste como só as vacas sabem fazer.
Ela saiu. Ele ficou. Ela chorava. Ele chorou. Olhou para os lençóis onde a traição fora consumada, arrancou-os da cama e deitou-se apenas no colchão. Pensou que chorar não valia a pena. Que as lágrimas que possuía eram de longe mais valiosas que qualquer mulher. Sentiu nesse momento que o amor era uma névoa, uma bruma como Avalon, que na realidade não existia mesmo. Sentiu que as mulheres não sabiam amar e jurou nunca mais se entregar a mais nenhuma.


Ela estava desconsolada. Sentia que tinha perdido o homem da sua vida por um momento de fraqueza. Odiou-se. Olhava no espelho com repugnância. Telefonou-lhe vezes sem conta mas nunca chegou a ouvir a sua voz. Ficou sozinha durante anos. Nunca mais soube amar tão intensamente.




Fábio Nobre 06\09\08

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O mundo é teu


Ouve o silêncio. Encontra o teu espaço. Pára e ouve o mundo em teu redor. Vê a criança que pula de alegria porque sabe que a mãe lhe vai comprar o gelado de chocolate. Olha o velhote sentado no banco de jardim a ler as notícias do seu clube favorito. Repara nos miúdos a jogar à bola com uma garrafa de água vazia. Ouve os passarinhos nas árvores altas. Pára. Fecha os olhos e sente. Limita-te a existir por um momento.


O cheiro a pipocas de uma vendedora ambulante. O sol na tua cabeça. A vida num dia de cada vez. Pensa nisso. A vida num dia de cada vez. Não apressemos as coisas. Sejamos somente o presente. Sejamos a criança que saboreia o gelado de chocolate, o velhote na sua tranquilidade, os miúdos traquinas, os passarinhos que voam…


Percebes agora a beleza do presente? Vês agora a beleza da vida? Entendes agora que o presente é tudo o que temos? Abre os braços e sorri…porque o mundo é teu sempre que quiseres.



Fábio Nobre 27\02\2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

ÉS...


És o meu precipício. O lugar onde eu deixo de fazer sentido. O ponto onde todas as minhas certezas se esfumam como se nunca tivessem existido. Onde o sol não é mais o sol e o oceano não é mais o oceano. És o canto das sereias que me embala na noite. És a montanha que está sempre longe, por mais que eu caminhe na sua direcção. A poesia que é a mais linda porque nunca foi escrita.


És o meu ponto fraco. Onde as coisas me doem com mais voracidade. És as feridas que nunca cicatrizam. És as minhas lágrimas num dia de chuva. O incêndio que lavra em mim há tempo demais. És talvez a tempestade de areia que me tornou um deserto.


Não sei onde acabo eu e começas tu. Não sei ao certo que palavras são tuas nas minhas frases. Sei apenas que és o meu medo. O local em mim onde a fronteira entre o que desejo e temo são difusas. O sítio onde nunca é dia e nunca é noite…

Fábio Nobre

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Preciso-te


Quero acordar contigo num quarto de hotel qualquer à beira-mar. Quero fazer amor a noite inteira e sentir que a minha paixão por ti é cada centímetro do teu corpo, que não podes saciar o meu desejo com beijos ardentes, que cada palavra tua é outra gota de veneno que bebo com prazer. Quero sentir que a tua paixão por mim é cada minuto que me prendes com olhares penetrantes, com sussurros picantes, cada gota de suor que nos torna dois seres em ebulição.


E na manha seguinte quero sentir-te com as ondas salgadas. Com os cabelos molhados e areia nas mãos. Desfrutar o que amo em ti vezes sem conta. Quero ser cada palavra que te fica engasgada na garganta, cada suspiro que não podes conter, cada fantasia, cada gemido de prazer que te denuncia. Preciso de te consumir e que me consumas também. Uma e outra vez. Nos lençóis transpirados pelo que nos une e na praia, para que o oceano se sinta intimidado com a tua beleza.


É urgente que me ames. Que queiras desaguar em mim sem receio. Preciso-te! De todo o teu ser, como a extensão do meu próprio corpo…


Fábio Nobre 1\12\2008

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Quando estás...


É tudo tão mais fácil quando estás por perto. Os caminhos de terra batida são mais fáceis, os dias são mais fáceis. O horizonte não me assusta e o oceano torna-se o meu aquário. As pessoas sorriem mais e o passar do tempo é suave. Eu sou mais fácil quando estás porque existo em ti e em tudo o que desejas e tocas, porque existo em cada átomo que te constitui e em todos aqueles que te rodeiam. Em cada olhar e em cada palavra e em cada bater do coração.


Sou teu porque não sou de ninguém. Porque de mão dada somos um só, almas siamesas do tamanho do tempo que temos pela frente. Amo-te de forma natural e da forma mais exagerada que é possível amar. Como se o amanhã se perdesse num buraco negro e tudo cessasse de ser, assim eu te amo. Amo-te em cada segundo com a intensidade dos anos que virão. Amo-te já com as rugas que terei daqui a cinquenta anos e com as dores ciáticas que me assolarão. Amo-te já com os cabelos brancos e com a bengala que um dia usarei. Amo-te já com o coração fraco de tanto bombear, com os músculos atrofiados, com o sangue menos quente. Amo-te já a minha vida toda para que não percamos mais tempo com palavras. Sou teu em tudo o que em ti existe e em tudo o que em mim existiu. Sou teu porque já não sei ser de outra forma, porque é em ti que reside o meu nascer do sol.


Fábio Nobre 17\01\09

sábado, 3 de janeiro de 2009

O amor...

O amor é algo que se conquista?
Duas mãos entrelaçadas
Num beijo que teima em não morrer…

Ou então um dia eterno à sua maneira,
Uma forma de sermos imortais
Se não recearmos o anoitecer…

Um coração à noite tem sempre frio
E é sempre mais amargurado
Porque sabe que o seu dia já fugiu…


Fábio Nobre 14\04\08