quinta-feira, 17 de março de 2011

Meia idade

" (...) Aquela casa, com as divisões a prolongarem-se a cada passo do pai da Ana Teresa. A cozinha que nunca mais chegava, a porta da saída ou entrada que teimava em fugir, o quintal matreiro que o fintava. A solidão expandia a casa ou encolhia o pai da Ana Teresa. Era uma solidão a part-time porque ele sabia que a filha estava perto mas era uma solidão sufocante porque nascia de dentro dele. Ele tinha já começado a perceber que a velhice abranda o tempo, torna cada hora mais demorada, mas apressa o tempo, torna cada dia mais curto. E a sua era uma velhice sobretudo mental, porque o seu corpo ainda não acusava severamente os sinais do envelhecimento, estava na meia-idade: como se pode estar na meia-idade se nunca sabemos com que idade morremos? (...)"


Fábio Nobre in O Silêncio das Palavras



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